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Além das cores: Teoria das Cores em Contexto

Por Letícia Moraes Souza




Fonte: Unsplash

https://unsplash.com/photos/WdNWrhdfKis



Todos os objetos do nosso dia a dia possuem cor, sejam elas cromáticas, como vermelho, azul ou verde, ou acromáticas, como branco, preto e cinza. Assim, muitas publicações exploraram as propriedades físicas, fisiológicas e até a linguagem associada às cores. Contudo, poucas pesquisas analisaram, com rigor científico, a psicologia das cores e como elas afetam aspectos emocionais, cognitivos e comportamentais. Desse modo, a Teoria das Cores em Contexto (Color-in-context theory) foi elaborada buscando solucionar as lacunas deixadas pelos estudos teóricos e empíricos elaborados anteriormente sobre este tema.

Primeiramente, é importante destacar que as cores podem variar em três dimensões: tonalidade, luminosidade e croma, e que cada um desses atributos é capaz de influenciar o funcionamento psicológico. Além disso, os estímulos com cores podem se diferenciar em relação à "percepção típica”, ou seja, o grau com que uma cor se parece em relação à representação típica da categoria a que pertence (por exemplo, o quanto vinho se parece com a representação típica usada para vermelho). Portanto, todos esses aspectos precisam ser considerados e controlados para que uma pesquisa envolvendo a psicologia das cores seja conduzida de modo sistemático.

Desse modo, as premissas defendidas pela Teoria das Cores em Contexto são:

1) Cores possuem significados: as cores não se relacionam apenas à estética, mas possuem significados. Elas são formas não lexicais de estímulos visuais que podem conter, simbolicamente, diferentes informações. Portanto, possuem valor funcional e cada uma das propriedades mencionadas acima podem expressar esse valor.

2) Cores influenciam o funcionamento psicológico: de acordo com seu significado, a percepção das cores pode influenciar o funcionamento psicológico. Processos avaliativos são iniciados pela observação das cores, que podem ser consideradas acolhedoras ou hostis. Esses processos podem operar em vias múltiplas, que vão desde mecanismos de reflexo rudimentares das vias medulares até respostas corticais. Desse modo, podem desencadear, respectivamente:

• Emoções positivas, como esperança e empolgação, flexibilidade

cognitiva e processamento global, comportamento aproximativo;

• Emoções aversivas, como medo e ansiedade, rigidez cognitiva

e processamento limitado, comportamento de esquiva.

3) Efeitos das cores são automáticos: a percepção das cores inicia-se em estados iniciais do processamento visual, com a absorção da luz pelos fotorreceptores, análise nos núcleos geniculados laterais e seguindo para diferentes áreas corticais. Assim, as informações que transmitem são processadas de forma não consciente e, como sua influência nos estados psicológicos ocorre desse modo, ela tende a ser persistente.

4) Os significados das cores e as suas respostas associadas, tem duas origens – social e biológica: o aprendizado social dos significados das cores ocorre por múltiplos pareamentos, implícitos e explícitos, entre cores e conceitos, mensagens ou experiências, que se iniciam desde a infância. A repetição desses paramentos cria fortes associações, sendo que apenas a percepção de uma cor pode ativar suas respostas emocionais, cognitivas e comportamentais correspondentes. Mas, somando-se ao aprendizado social, há aspectos biológicos que contribuem para construções de significados particulares de cores. Alguns teóricos hipotetizam que a visão colorida evolui para contribuir com a adaptação e sobrevivência das espécies. Assim, é provável que, historicamente, linguagens, literaturas e práticas culturais associadas às cores, não tenham surgido ao acaso, mas tenham derivado das tendências biológicas, reforçando essa predisposição evolutiva.

5) Relações entre percepções de cores e emoções, cognição e

comportamentos são recíprocas: cores afetam emoções, cognição e comportamentos, e vice-versa. Vários teóricos propõem que a percepção visual não é apenas um produto isolado do sistema visual, mas que é influenciada por estados psicológicos do perceptor.

6) Significados das cores e seus efeitos dependem dos contextos: as cores têm implicações diferentes nos sentimentos, pensamentos e ações em contextos distintos, podendo, até mesmo, carregar significados opostos. A percepção de cores é influenciada por outras propriedades visuais, como formas, texturas, movimentos, contrastes e orientações espaciais, sendo que essas mudanças também podem induzir diferentes associações. Além disso, as cores geralmente são vistas em objetos, não em superfícies isoladas, e isso pode influenciar nas preferências estéticas e nas associações devido a coloração. Por exemplo, um par de calças azul pode ser mais apelativo que um par de sapatos também azul. Do mesmo modo, uma blusa rosa pode ser associada a feminilidade, mas um chiclete da mesma cor, não. Mas,

independentemente do objeto, o contexto psicológico pode influenciar na cor, seus significados e manifestações, incluindo respostas nos domínios comportamentais, emocionais/motivacionais, culturais, instruções ou características de tarefas e disponibilidade de informações.

Os autores da Teoria das Cores em Contexto realizaram uma série de experimentos no qual buscavam confirmar suas premissas, utilizando estímulos cuidadosamente preparados com a ajuda de um espectrômetro. Foi observado, por exemplo, que participantes solicitados a resolverem anagramas apresentados na cor vermelha, tipicamente associada a fracasso (Ex: nota vermelha), tiveram pior performance que aqueles que receberam anagramas em verde ou preto, o que demonstra seu possível efeito nos processos cognitivos.

Portanto, é possível concluir que a escolha de cores deve ser feita considerando-se seus possíveis efeitos psicológicos no contexto em que serão aplicadas e os principais objetivos que se deseja atingir com sua aplicação. Essas informações se mostrariam ainda mais relevantes para profissionais da área de marketing, que poderiam criar identidades visuais ou peças publicitárias mais apelativas por meio da utilização desse tipo de linguagem não verbal. Também, designers podem aplicar as cores de forma a aumentar o prazer e a satisfação da experiência dos usuários, facilitando processos cognitivos.



Referência Bibliográfica:

ELLIOT, Andrew J.; MAIER, Markus A.. Color-in-Context Theory. Advances In Experimental Social Psychology, [S.L.], p. 61-125, 2012. Elsevier.

http://dx.doi.org/10.1016/b978-0-12-394286-9.00002-0. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/B9780123942869000020#:~:text=Central%20to%20color%2Din%2Dcontext,and%20actions%20in%20different%20contexts.. Acesso em: 02 set. 2021.

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