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Células-tronco na ELA: uma alternativa possível à neurodegeneração


(Imagem do físico Stephen Hawking, que tinha esclerose lateral amiotrófica)

A ELA (esclerose lateral amiotrófica) é uma doença neurodegenerativa que causa o acometimento dos neurônios motores, tanto superior quanto inferior, gerando a perda de movimentos progressivamente devido à falência neuronal. Existem dois tipos, a familiar e a esporádica. A familiar corresponde à 10% dos casos e a esporádica, 90%. O início dos sintomas normalmente se dá com a incapacibilidade de realização de movimentos distais focais, como não conseguir mexer o dedo indicador da mão esquerda, sendo que todos os dedos da mão oposta executam o movimento normal.


Essa doença ficou bastante conhecida devido à pacientes como o físico Stephen Hawking e o jogador de beisebol Lou Gherig. A sua progressão é extremamente acelerada, com uma sobrevida média de 3 a 5 anos após o diagnóstico, sendo variada conforme a origem do acometimento (se bulbar, a sobrevida média é de 2 a 3 anos, se medular, a sobrevida média é de 3 a 5 anos). O óbito decorrente dessa doença normalmente ocorre pela falência respiratória, já que devido ao seu avanço, a esclerose lateral amiotrófica atinge uma região que chamamos de tronco encefálico, responsável por diversas funções, entre elas, a participação no controle respiratório, daí a falência respiratória que leva ao óbito.


A questão é que ainda não se sabe ao certo o que realmente causa essa doença e o que pode ser feito para evitar a progressão da mesma, existem apenas algumas hipóteses, como a enzima SOD1, o gene C9ORF72, a excitotoxicidade causada pelo glutamato e o aumento do estresse oxidativo (estes dois últimos são mais relacionados como consequências, mas não há o conhecimento da causa específica da geração de ambos na ELA). Sabe-se também muito mais sobre os fatores que influenciam o tipo familiar do que o esporádico (este que corresponde à maioria dos casos - 90%). O tratamento atual é feito com o uso de alguns medicamentos, como o Riluzol (foco na diminuição da excitotoxicidade causada pelo glutamato) e o Edaravone (foco na diminuição do estresse oxidativo) dão uma sobrevida curta (2 meses em média). Existem diversas linhas de pesquisas que procuram explicar as causas e encontrar um tratamento adequado para a ELA, entre elas há a linha de células-tronco.


O uso de células-tronco tem se demonstrado bastante promissor. Um estudo recente feito com 18 pacientes com esclerose lateral amiotrófica demonstrou resultados animadores. Ele consistiu na injeção de células-tronco neurais multipotentes (oriundas de células neurais de abortos espontâneos) na região dorsal ou na região cervical da medula espinal dos pacientes, com o objetivo de que essas células se diferenciem em células neurais para reduzir a perda causada pela doença, desacelerando a progressão da doença.Os pacientes foram selecionados com alguns critérios, como não podendo estarem utilizando algum tipo de ventilação respiratória invasiva, ter a função pulmonar maior ou igual a 60% e não oncológicos. As pessoas tinham tempos diferentes de descoberta da doença e eram de idades distintas (de 25 a 67 anos, com idade média de 48 anos).


A pesquisa era acompanhada por exames de neuroimagem (fMRI - ressonância magnética funcional) do encéfalo e da medula espinal, de ultrassom da bexiga, de hemogramas e de avaliações neuropsicológicas para verificar a existência de sintomas referentes a depressão e qualidade de vida dos pacientes. O acompanhamento era iniciado com os exames pré-cirúrgicos e, após o procedimento de injeção de células-tronco, eles receberam um acompanhamento durante 1 ano com maior frequência e, depois desse período, os exames e as visitas para a realização de avaliações neuropsicológicas eram mais espaçados. Além disso, foi realizado o tratamento com Tacrolimus, um imunossupressor utilizado para evitar a rejeição do organismo sobre as células-tronco. Apenas um paciente teve a necessidade do interrompimento do uso do mesmo, pois apresentou tremores posturais, sendo cessado após a suspensão do uso de Tacrolimus.


Os resultados foram bastante animadores. A sobrevida média dos pacientes foi de 24 meses. Durante o período de acompanhamento total, 11 pacientes faleceram e apenas 2 necessitaram de traqueostomia (orifício aberto na traqueia para a colocação de uma cânula e passagem de ar). Sim, pode não parecer muito, mas se tratando de ELA, é um resultado interessantíssimo, principalmente porque o Riluzol (medicamento mais utilizado) apresenta uma sobrevida média de 2 meses. Além disso, não se deve esquecer o fato de que haviam pacientes com diagnóstico obtido há vários meses antes do estudo. As avaliações neuropsicológicas referentes ao humor e à qualidade de vida também foram positivas, sendo que houve apenas um caso de sintomas depressivos após o procedimento (os sintomas foram referentes à falta de cuidado dos familiares com o paciente) e a qualidade de vida teve média de 73% entre os pacientes.


O tratamento aparenta ser bastante promissor, no entanto o seu uso mais amplo na clínica ainda é um assunto que gera muita discussão, principalmente pelo fato da esclerose lateral amiotrófica se tratar de uma doença incurável. Esse estudo ainda traz algumas questões, como o número ótimo de células tronco que devem ser injetadas, por quanto tempo as células permanecem ativas em humanos, o critério de seleção dos pacientes, os biomarcadores para monitorarem o curso da doença e a eficácia das células-tronco neurais humanas. Ainda há muito a descobrir sobre esse assunto.



Referências:


Mazzini, L., Gelati, M., Profico, M. D., Sorarú, G., Ferrari, D., Copeti, M., Muzi, G., Ricciolini, C., Carletti, S., Giorgi, C., Spera, C., Frondizi, D., Masiero, S., Stecco, A., Osari, C., Bersano, E., De Marchi, F., Sarnelli, M. F., Querin, G., Cantello, R., Petruzzelli, F., Maglione, A., Zalfa, C., Binda, E., Visioli, A., Trombetta, D., Torres, B., Bernardini, L., Gaiani, A., Massara, M., Paolucci, S., Boulis, N. M., Vescovi, A. L. (2019). Results from Phase I Clinical Trial with Intraspinal Injection of Neural Stem Cells in Amyotrophic Lateral Sclerosis: A Long-Term Outcome. Stem Cells Translational Medicine, 8(9), p.887-897.


Rocha, K. P., De Oliveira, M. S., Pacheco, M. B., Rodrigues, L. B. (2013). A Importância de se Conhecer a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA): Uma Revisão Bibliográfica. XIII Safety, Health and Environment World Congress, 13(1), p.124-127.


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